terça-feira, 20 de setembro de 2011

Domingo à Tarde

Domingo à Tarde de Fernando Namora

Acabei de ler este livro,é sobre a relação de médico doente que ultrapassou as fronteiras da saúde e aventuraram num relacionamento de homem/mulher, sem ser um relato de uma história de amor mas sim o encontro de ´duas pessoas com dificuldades em deixar transparecer os sentimentos e afectos para com os outros. Ele enquanto médico oncológico endurecido pela profissão e ela violentada pela vida e pela doença incurável...

domingo, 18 de setembro de 2011

Poesia de Guerra Junqueiro

Morena

Não negues, confessa
Que tens certa pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena.

Pois eu não gostava
Parece-me a mim,
De ver o teu rosto
Da cor do jasmim.

Eu... mas enfim
é fraca a razão,
Pois pouco me importa
Que eu goste ou que não.

Mas olha as violetas
Que, sendo umas pretas,
O cheiro que têm!
Vê lá que seria,
Se Deus as fizesse
Morenas também!

Tu és a mais rara
De todas as rosas;
E as coisas mais raras
São mais preciosas.


Há rosas dobradas
E´há as singelas;
Mas são todas elas
Azuis, amarelas,
De cor de açucenas,
De muita outra cor;
Mas rosas morenas,
Só tu minha flor.

E olha que foram
Morenas  e bem
As moças mais lindas
De Jerusalém.
E a Virgem Maria
Não sei...mas seria
Morena também.

Moreno era Cristo.
Vê lá depois disto
Se ainda tens pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena!
Guerra Junqueiro
(1850-1923)

Crochet Toalhas de renda e linho


Toalhas feitas à mão com linha branco linho e linho velho tecido em tear em em casa da avó do meu companheiro, em Gandra conselho de Valença.Este trabalho é feito ao serão diariamente e vai crescendo lentamente até que fica pronto.Serve de terapia e recomendo vivamente.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Poesia de Manuel da Fonseca

Antes que seja tarde



Amigo
Tu que choras uma angustia qualquer
E falas de coisas mansas como o luar e paradas
Como águas de um lago adormecido


Acorda!
Acorda!


Deixa de vez as margens de um regato solitário
Onde te miras, como se fosses a sua namorada.
Abandona esse jardim sem flores desse país inventado
Onde tu és o único habitante
Deixa os desejos sem rumo de barco ao deus dará
E esse ar de renúncia às coisas do mundo


Acorda, amigo
Liberta-te dessa paz podre que existe
Apenas na tua imaginação


Abre os olhos e olha
Abre os braços e luta


Amigo
Antes da morte vir
Nasce de vez para a vida


Abre os olhos e olha
Abre os braços e luta


Antes da morte vir
Nasce de vez para a vida


Acorda!
Acorda!
(Manuel da Fonseca)


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Poesia Miguel Torga

Chuva

Chove uma grossa chuva inesperada,
Que a tarde não pediu mas agradece.
Chove na rua, já de si molhada
Duma vida que é chuva e não parece.

Chove, grossa e constante,
Uma paz que há-de ser
Uma gota invisível e distante
Na janela, a escorrer...

(Miguel de Torga)

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Poesia de Joaquim Pessoa

De bruços me debruço mais ainda
até sentir os olhos tumefactos
para saber até que ponto é linda
a intrigante cor desses sapatos

que às tuas pernas dão um brilho tal
e uma leveza tal ao teu andar,
que eu penso (embora aches anormal)
que nunca te devias descalçar.

Também porquê, se já não há verdura
nem tu és Leonor para correr
descalça, no poema, à aventura?

O mais difícil, hoje, é antever
quem é que vai à fonte em literatura
e que água dá aos versos a beber.

(Joaquim Pessoa)

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Poesia Manuel Alegre



Quinto poema do pescador


Eu não de oração senão perguntas
ou silêncios ou gestos ou ficar
de noite frente ao mar não de mão juntas
mas a pescar.


Não pesco só nas águas mas nos céus
e a minha pesca é quase uma oração
porque dou graças sem saber se Deus
é sim ou não.

(Manuel Alegre)



sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Poesia "João de Deus"

Beijo

Beijo na face
Pede e dá-se:
Dá?
Que custa um beijo?
Não tenha pejo:
Vá?

Um beijo é culpa,
Que se desculpa:
Dá?
A Borboleta
Beija a violeta:
Vá!

Um beijo é graça.
Que mais não passa:
Dá?
Teme que a tente?
É inocente...
Vá!

Guardo segredo,
Não tenha medo...
Vê?
Dê-me um beijinho,
Dê de mansinho,
Dê!

João de Deus (1830- 1896)