domingo, 18 de setembro de 2011

Poesia de Guerra Junqueiro

Morena

Não negues, confessa
Que tens certa pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena.

Pois eu não gostava
Parece-me a mim,
De ver o teu rosto
Da cor do jasmim.

Eu... mas enfim
é fraca a razão,
Pois pouco me importa
Que eu goste ou que não.

Mas olha as violetas
Que, sendo umas pretas,
O cheiro que têm!
Vê lá que seria,
Se Deus as fizesse
Morenas também!

Tu és a mais rara
De todas as rosas;
E as coisas mais raras
São mais preciosas.


Há rosas dobradas
E´há as singelas;
Mas são todas elas
Azuis, amarelas,
De cor de açucenas,
De muita outra cor;
Mas rosas morenas,
Só tu minha flor.

E olha que foram
Morenas  e bem
As moças mais lindas
De Jerusalém.
E a Virgem Maria
Não sei...mas seria
Morena também.

Moreno era Cristo.
Vê lá depois disto
Se ainda tens pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena!
Guerra Junqueiro
(1850-1923)

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