sábado, 30 de abril de 2011

Porque - Francisco Fanhais

poesia de Sofia de Melo Breyner Andresen

Porque



Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não


Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem


E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.

Porque os outros calculam mas tu não.


Sophia de Mello Breyner Andresen

Maria João "a outra"



Lindo. Maria João, cantas tão bem.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

poesia de Mário Sá Carneiro

Fim


Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!


Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.

Mário de Sá Carneiro